Descrição
A GRINALDA DO RATTO
Por Manoel Herzog*
Seriam os poemas flores? Atrás dessa imagem, que remete o fazer poético a um jardim perfumado, pode-se pensar também em flores de cemitério, flores radioativas como a rosa de Hiroshima, flores pervertidas como as nuanças do sexo humano, tão mais complexo que o dos vegetais, e não esqueçamos que as flores são os órgãos destes.
Não é raro poetas nomearem suas coletâneas, seus jardins pessoais, com referências a flor. Machado de Assis, a quem acusam não ter sido um poeta à altura do prosador que foi, compôs um livro com o simpático nome de Phalenas – lembremos que o nome dessa espécie de orquídea remete a falo. Baudelaire reuniu sua Flores do Mal na coletânea que inaugura o Modernismo e escancara que não é por ser flor que tem que ser fofo. Os sonetistas d’antanho denominavam “coroa” a reunião de sonetos encadeados que narravam algum feito. Enfim, faz todo o sentido se florarem as coletâneas de poema, bouquet, coroa, corbeille, ramalhete ou grinalda.
De outra quadra, é bastante necessário que um poeta faça balanço de sua trajetória, sua antologia pessoal, a coletânea que, além dos livros temáticos/temporais que sua poesia produza, representa a evolução literária, seu lócus no panteão dos criadores. Um poeta criado, a caminho do decanato, deve fazer isso, e é o que faz nessa olente Grinalda o Daniel Perroni Ratto, mapeia a síntese de sua melhor produção ao longo de cinco biênios. Desde os anos de formação, as memórias do Ceará natal, as referências à cultura nordestina tão bem ambientada (tal e qual o poeta) na inóspita capital paulista, o início rimado em atenção à tradição evoluindo pra uma liberdade de forma, um urbanismo cosmopolita, as referências à boêmia e ao prazer e à dor dessa experiência que chamam vida, cada flor dessa grinalda representa o notável trabalho do editor, músico, poeta e agitador cultural a fazer o balanço parcial de uma obra em plena construção, que ainda nos deve render outras tantas coletâneas, apostando-se na longevidade dos poetas que superaram o Mal du Siècle. É tempo de celebrar a maturidade do poeta, que mane perfume a sua grinalda.
Manoel Herzog nasceu em Santos a 24 de setembro de 1964. Em 1987, estreou com a publicação do livro de poemas Brincadeira Surrealista. Cursou Direito na Faculdade Católica de Santos. Foi finalista, com o romance Amazônia, do Prêmio Sesc 2009. Autor de vários livros, entre eles, A comédia de Alissia Bloom (Poesia – Patuá, 2014), terceiro lugar no Prêmio Jabuti, Sonetos D’amor em branco e preto (Poesia, 2016 – Prêmio ProAC 2015), Companhia Brasileira de Alquimia (Romance – Patuá, 2013), semifinalista do Prêmio Portugal Telecom e A Jaca do Cemitério É Mais Doce (Alfaguara, 2017), um dos vencedores do Prêmio Machado de Assis e semifinalista do Prêmio Oceanos.
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